SERVIÇO SOCIAL, PROJETO PROFISSIONAL E PRODUÇÃO
DE CONHECIMENTO.
Revistas científicas da área
RESUMO
Uma
atuação dos assistentes sociais voltada aos interesses históricos dos
trabalhadores exige segurança de princípios éticos e suporte teórico que ilumine
uma análise social crítica e problematize o cotidiano da prática dos
assistentes sociais na busca de referenciar e democratizar práticas mediadas
pelo projeto profissional. No entanto, observa-se uma insuficiente e frágil
produção de conhecimento na área de Serviço Social que aborde a profissão e o projeto
profissional. Quando isso ocorre, as mediações com a profissão têm caráter
analítico com ausência de proposições.
PALAVRAS
CHAVE
Serviço Social, projeto profissional,
emancipação, produção de conhecimento, formação.
ABSTRACT:
A social worker practice dedicated to the historical interests of
workers requires security of ethical principles and theoretical support to illuminate
a social-critical analysis and problematize the everyday practice of social
workers in search of reference and democratize practices mediated by the
professional project. However, there are insufficient and fragile production of
knowledge in the Social Work that broach the profession and professional project.
When it occurs, the mediations with the Social Work have analytical character
with absence of propositions.
KEYWORDS:
Social Work, professional project, emancipation, production of
knowledge, training.
Introdução
Na análise da
produção de conhecimento do Serviço Social, presente nas revistas científicas
da área, nos últimos 5 anos, buscamos apreender se a categoria dos assistentes
sociais pode contar com produções que, para além das temáticas essenciais à
formação ético-política e teórico-metodológica, estabeleçam mediações com a
profissão e com o projeto ético-político do Serviço Social brasileiro, tendo em
vista estruturar a busca de práticas medidas por ele. Um projeto que,
apreendido na sua radicalidade, é parte e expressão de um proejto de sociedade anticapitalista,que
busca favorecer os diferentes segmentos da classe trabalhadora na busca pela
emancipação humana.
Estudos desenvolvidos no NEEPSS/FSS-UERJ, tendo
como objeto os trabalhos publicados nos Anais dos principais eventos
científicos do Serviço Social (ENPESS/CBAS) (Baltar, 2012; Vasconcelos e
outros, 2013), mostram uma insuficiente abordagem da profissão e do projeto
profissional e, quando ela acontece, é uma abordagem analítica com escassas abordagens
também propositivas. A maioria dos assistentes sociais (oriendos da academia)
não tematiza a profissão e a prática profissional, nem faz mediações com o Serviço
Social e, desse modo, não estabelece as mediações necessárias com o Serviço
Social, tendo em vista contribuir na estruturação de práticas mediadas pelo
projeto profissional, o que dificulta que assistentes sociais e estudantes
possam tê-las como referência para pensar e agir criticamente no cotidiano
profissional.
Tendo em vista aprofundar nossos
estudos, tomamos como objeto a produção de conhecimento da área de
Serviço Social presente em teses (Baltar, 2015) e revistas científicas da área,
buscando compreender como a produção de conhecimento da área de Serviço Social
tem contribuído com o conhecimento, com a profissão, com o projeto
ético-político e com o exercício profissional. Neste trabalho, apresentamos de
forma sintética os principais achados dos estudos dos artigos publicados em três
revistas científicas, realizados através de TCCs: Revista Temporalis
(RODRIGUES, 2015), organizada pela ABEPSS, Revista Serviço Social &
Sociedade (ALBUQUERQUE, 2015) e Revista Em Pauta da FSS/UERJ (NERI, 2015).
Resaltamos,
a seguir, sinteticamente, a importância da produção e democratização do
conhecimento para a humanidade, para o Serviço Social e para o projeto
profissional seguida da apresentação de alguns dos achados da investigação. Devido
às exigências colocadas a este trabalho, não temos condições, aqui, de aprofundamento
das questões abordadas.
1 - Produção
de conhecimento, universidade, Serviço Social e projeto profissional
Como
podemos apreender em Marx/Engels e Lukács, a partir de sua capacidade
teleológica de planejar previamente em sua mente aquilo que deseja
alcançar/criar, o homem é capaz de desenvolver novos conhecimentos. O sujeito
precisa, além de idealizar o objeto antes de construí-lo, conhecer as condições
objetivas sobre aquilo em que atua.
O conhecimento, sob a forma de um saber,
inicia-se por intermédio da relação entre homem e natureza, ou seja, através do
trabalho que, como atividade coletiva, permite sua democratização/ampliação. Ou
seja, a partir das experiências durante sua vida, em busca de sobrevivência, por
meio da concretização de suas objetivações, os homens têm a possibilidade de criar
algo que até então não havia sido pensado. Podemos afirmar,assim, que o
conhecimento é oriundo do trabalho e, não sem razão, “para Marx, uma expressão
de nosso ser individual é também uma realização de nosso ser genérico”
(Eagleton, 1999, p.50). Todo saber desenvolvido por um ser humano, a partir do
momento que é partilhado com/por seus iguais, não pertence apenas a ele, mas a
todos aqueles que usufruem de tal descoberta.
Quando o conhecimento criado na imediaticidade do trabalho se torna
genérico, torna-se patrimônio da humanidade. A linguagem articulada, uma
das particularidades do ser social[1],
foi fundamental para que os indivíduos expressassem as suas representações
sobre o mundo e tudo que o cerca. Foi a partir dela que novos conhecimentos
puderam ser transmitidos, um processo que se desenvolve com base na comunicação que se estabelece através
da relação entre os indivíduos. O caráter coletivo da atividade do trabalho é
denominado social.
Em suma, o trabalho,
como atividade pensada, planejada, é a atividade fundante do ser social; atividade
que resulta para o indivíduo e para a humanidade em conhecimento a partir da relação
homem/natureza, em que o ser humano transforma a natureza para suprir suas
necessidades. Atividade que exige pensar no que quer fazer, para o que quer
fazer, qual o objetivo da ação, a partir de um processo de idealização do objeto
que resulta numa atividade teleologicamente orientada que, no processo de
humanização, traz como consequência, através de mediações cada vez mais
complexas, o surgimento das inúmeras outras dimensões/obejtivações da atividade
humana: o pensamento religioso, a
filosofia, a ciência, a arte, a economia, a política, o direito etc.
A apropriação do
conhecimento socialmente produzido se dá pela educação, que é uma relação entre
homens, diferente do trabalho, que é uma relação entre homem e natureza. A Universidade,
sustentada direta ou indiretamente nas sociedades modernas pelo fundo público,
é uma instituição que tem um papel fundamental na formação de profissionais e
democratização do conhecimento conservado/recuperado, mas, antes de tudo, um
papel fundamental na produção do conhecimento necessário às respostas que,
individual e coletivamente, necessitamos, tendo em vista garantir as condições
necessárias à reprodução da espécie humana e conservação da natureza da qual
dependemos. Assim, a universidade é um espaço privilegiado de manutenção da
indissociabilidade ensino/pesquisa/extensão, que, por princípio, deveria formar
cidadãos críticos responsáveis pela divulgação, democratização e produção do
conhecimento socialmente necessário e referenciado.
A
universidade brasileira surge no contexto do processo de industrialização no país
– por volta de 1909 – tendo como objetivos formar a classe dominante burguesa e
seus filhos para administrar a riqueza produzida socialmente e estimular o
processo de produção de mercadorias sendo que a formação de trabalhadores do
segmento operário se realiza de forma a serem adestrados para agirem dentro dos
imperativos de comando do capital sobre o mercado de trabalho. Desse modo, a emergência
da universidade no Brasil responde aos interesses do capitalismo emergente, não
se constituindo num movimento neutro, direção social que vem impactando a
instituição até os dias de hoje, diante das necessidades da burguesia/capital
de garantir a reprodução das relações sociais que interessam ao desenvolvimento
do Modo de Produção Capitalista.
Mas,
como afirma Chaui (2003), “A universidade é uma instituição social e como tal
exprime de maneira determinada a estrutura e o modo de funcionamento da
sociedade como um todo”. Desse modo, no seu interior convivem opiniões,
atitudes e projetos conflitantes que expressam as divisões e contradições da
sociedade, contexto conflituoso que influencia a produção e democratização do
conhecimento e a formação de profissionais.
A partir da década de 1960,
impulsionado pela efervescência política da época e pelos movimentos sociais e da
classe trabalhadora, tem início o Movimento de Reconceituação do Serviço Social
latino-americano, que expressava uma crítica ao Serviço Social Tradicional.
Criticava-se a equalização do Serviço Social à ajuda/caridade, sua base teórica
ligada à Igreja Católica e ao funcionalismo, o caráter de executores terminal
das políticas e a falta de criticidade da/na profissão. Esse movimento deu
abertura para mudanças no Serviço Social em toda América Latina e no Brasil; movimento
que, mesmo não sendo homogêneo, nem entre os países, nem dentro de cada país,
visto que nem toda a categoria profissional concordava com as questões
colocadas, sem dúvida, foi de grande importância para transformações no seio da
profissão.
No Brasil, que se encontrava, desde
1964, sob o comando de uma ditadura civil/militar (ver Netto, 2014), parte
expressiva dos assistentes sociais, submetida a forte repressão vivida em todo
o país, recorria à literatura latino-americana da área e áreas afins. Desse
modo, o movimento latino-americano influenciou profundamente assistentes
sociais brasileiros de dentro e fora da academia e, entre 1970-1980, em âmbito
nacional, emerge o Movimento de Renovação do Serviço Social brasileiro (Netto,
2011).
É a partir da vertente crítica desse Movimento, denominada intenção de
ruptura, que os profissionais que acreditavam no caráter político e social de
uma profissão vinculada à realidade social capitalista, passaram a se apropriar
de autores que estudavam tal realidade de forma crítica. O Serviço Social se
aproxima do marxismo e da Teoria Social de Marx, gradativamente se aproximando
das produções originais e seminais.
Com o fim da ditadura miliar, um
movimento que articulou assistentes sociais que atuavam diretamente com os
trabalhadores/usuários, no planejamento e gestão de serviços, assistentes
sociais da academia, assistentes sociais que ocupavam os organismos de
representação da categoria e discentes, resultou, no início dos anos 90, no que
hoje denomina-se projeto ético-político profissional do
Serviço Social brasileiro.
O movimento que resulta e mantém vivo o
projeto, em aliança com segmentos organizados da classe trabalhadora e com os
movimentos que deram o grito de liberdade ao derrotarem a ditadura, que
processou e processa a organização política da própria categoria e que mantém
hegemonia com relação às referências para a formação acadêmico-profissional,
exigiu e exige a interlocução com a Teoria Social crítica. Neste contexto: a Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) propõe, num primeiro momento, um Currículo Mínimo para a
formação do intelectual, radicalmente crítico, criativo e propositivo,
necessário a práticas que possam favorecer os interesses históricos dos
trabalhadores (Ver Revista Serviço Social e Sociedade nº 14, 1984), que tem sua
expressão final nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS/1993[2]; a categoria num poderoso
movimento de debate e reflexões modifica a Lei de Regulamentação (1993) e o
Código de Ética do assistente social (em 1986 e em 1993); parte da
intelectualidade do Serviço Social brasileiro, a partir de uma produção de
conhecimento de cariz teórico-metodológico crítico, vem estabelecendo uma
interlocução fecunda com intelectuais de áreas afins não capturados pelo
pensamento pós-moderno; o conjunto CFESS/CRESS/ABEPSS/ENESSO articula a
organização política da categoria no país.
Na perspectiva do proejto é que a produção de conhecimento dentro e fora
do Serviço Social foi e é fundamental para o avanço da profissão, tendo em
vista uma materialização do projeto profissional que resulte em contribuições
para os trabalhadores nos seus processos de formação, mobilização e organização.
É nesse sentido que a produção de conhecimento da área de Serviço
Social, favorecendo não só a formação dos sujeitos profissionais, mas
iluminando o cotidiano profissional – o que só é possível a partir das
mediações necessárias com a profissão e da análise concreta de situações
concretas – torna-se estratégica e fundamental. [...]. Diante disso, os
desafios maiores dos assistentes sociais que escolhem o projeto ético-político
como referência não estão determinados ad eternum pela qualidade da formação
graduada – onde predomina o ensino privado e à distância, apartados das
Diretrizes Curriculares da ABEPSS -, mas nas possibilidades existentes e a
serem construídas individual e coletivamente, de estruturar uma formação
permanente qualificada – ou seja, formação de um intelectual – para planejar e
executar estratégias e ações necessárias àquela contribuição (Vasconcelos,
2015, p.204).
A
questão que se coloca é qual a contribuição que a produção de conhecimento da
área tem dado na busca de práticas mediadas pelo projeto, quando já temos
conhecimento de que as pesquisa da área não tomam como objeto de investigação sistemática
o cotidiano dos assistentes sociais brasileiros, na formação e na atividade
sócio assistencial. (Ver Iamamoto, 2007, cap.4) Frente a isso, torna-se
necessário, antes de mais nada, qualificarmos a presença do Serviço Social e do
projeto profissional nos veículos de democratização da produção de conhecimento
da área (revistas científicas, teses e dissertações, Anais de Congresso,
livros, coletâneas etc.).
Ressaltamos aqui que uma
produção de conhecimento na perspectiva crítica não é necessária a qualquer
projeto profissional, mas, como podemos apreender em Vasconcelos (2015, cap.1),
ao projeto que se reivindica articulado a um projeto de sociedade
anticapitalista em busca da emancipação humana. Diante das exigências e
desafios colocados aos assistentes sociais que escolhem conscientemente essa
direção social, afirma a autora,
O projeto profissional não veio para colocar os assistentes sociais
dando “murro em ponta de faca”. Ao revelar as condições e conteúdos necessários
para que os assistentes sociais compreendam o “significado social da profissão
e de seu desenvolvimento sócio histórico, nos cenários internacional e
nacional” e sejam capazes de desvelar “as possibilidades contidas na realidade”,
como consta das Diretrizes Curriculares da ABEPSS e dos Núcleos de
Fundamentação, o projeto profissional, enquanto referência, sinaliza as
condições necessárias para que os assistentes sociais, para além das
requisições institucionais, mas não independente delas, possam identificar o
necessário – no que se refere às dimensões teórico-metodológicas e
ético-políticas – tendo em vista favorecer mais o trabalho do que o capital.
(Vasconcelos, 2015)
2 - A
produção de conhecimento nas revistas científicas da área de Serviço Social
A base de dados
objeto da presente análise - 3
revistas científicas, 46 edições com 426 artigos - é originária do aprofundamento da investigação realizada no
NEEPSS sobre o exercício profissional dos assistentes sociais em diferentes
áreas temáticas, o que resultou em três Trabalhos de Conclusão de Curso que
tematizaram a produção de conhecimento da área de Serviço Social, a partir de
um Eixo de Análise elaborado pela coordenadora, tendo em vista apreender o
conteúdo e a direção social de cada produção. As revistas científicas
analisadas foram: Serviço Social e Sociedade – 59 artigos, publicados entre 2010-2014, em 20 revistas; Revista Temporalis, organizada
pela ABEPSS - 106 artigos, publicados no período de 2010 a 2015, em 10 revistas;
Revista Em Pauta/FSS/UERJ - 161 artigos, publicados no período de 2007
a 2014, em 16 revistas.
Buscamos identificar contribuições
para se pensar e fazer Serviço Social na direção do projeto profissional e, como
consta do Eixo de Análise (Vasconcelos, 2013), não se reivindica a relação de
toda a produção da área de Serviço Social com a profissão e/ou com o exercício
profissional, nem com o projeto profissional. A questão central é identificar
se os assistentes sociais brasileiros têm disponível uma produção de
conhecimento qualificada, que aborde questões relacionadas ao exercício
profissional, frente às referências ético-políticas e teórico-metodológicas que
orientam o projeto profissional, para além da produção que fundamente a
formação graduada e permanete de um profissional generalista e crítico. Ressaltamos
assim, que a maioria dos trabalhos que não promove
mediações com a profissão apresenta riqueza teórica ao abordar temas relevantes
para o Serviço Social.
Tendo
em vista distinguir os artigos que fazem ou não relação com a profissão, num
primeiro momento, foram consultados os títulos, os resumos e as palavras-chave,
buscando identificar qualquer palavra/noção/conceito que possa sugerir essa relação.
Assim, na presença de “Serviço Social”, “assistente social”, “projeto
ético-político” e/ou “projeto profissional”, “prática profissional”, o artigo
foi selecionado. Na ausência desses indicadores e em casos de dúvida, foi
realizada a leitura da introdução, das considerações finais e/ou de alguns
itens tendo em vista identificar ou não algo que fizesse relação com a
profissão, partindo do pressuposto de que se o artigo cita termos relacionados
à profissão no mesmo temos a possibilidade de encontrar mediações com a
profissão/projeto/cotidiano profissional.
Cada uma das variáveis analisadas,
enriquecidas com categorias indicadas pelo próprio processo de reconstrução
empírica do objeto, foi alimentada a partir do processo de leitura dos artigos
indicado acima e sistematizadas.[3]
Quanto à articulação dos artigos com
o Serviço Social: Revista Em Pauta, 20% dos artigos
fazem alguma referência ao Serviço Social; Revista Serviço Social e Sociedade,
47% e Revista Temporalis/ABEPSS, 61%. Ou seja, no computo geral dos 426
artigos, a maioria não chega a mencionar o Serviço Social. Considerando que a
produção de conhecimento da área pode fortalecer a democratização do
conhecimento necessário a práticas profissionais críticas, propositas e
criativas, a partir da divulgação de resultados de pesquisas/estudos, relatos
de experiência etc.; pode favorecer que os profissionais apreendam as
contradições do real e realizem as mediações necessárias para apreensão crítica
da realidade social trabalhada, tendo em vista a superação de ações
fragmentadas, baseadas no senso comum, é relevante que duas das principais
revistas da área têm mais da metade dos artigos sequer mecionam a profissão.
Por outro lado, há que se destacar que a revista Temporalis da ABEPSS, com 39%
de artigos que não citam o Serviço Social. é uma importante revista de um dos
organismos de representação da categoria, voltado para a formação.
Quanto
ao vínculo dos autores: Revista Em Pauta, 88%
dos autores são vinculados à Academia; destes, 71% não citam o Serviço
Social e 17% restantes citam; 2%
dos autores pertencem aos Serviços, sendo que nenhum deles cita o Serviço
Social; 10% dos autores atuam na Academia e nos Serviços, 3% fazem referência à
profissão; Revista Serviço Social e Sociedade, 75% dos autores são
vinculados à Academia e, destes, 33% citam e 42% não citam o Serviço Social;
3% são da área de Serviços - 2% não citam o Serviço Social e
1% cita; 22% são do Serviço/Academia, sendo que 10% não citam o serviço social
e 12% citam; Revista Temporalis, 89% dos
autores estão na Academia - 35% não citam o Serviço Social e 54% citam;
2% da área de Serviços, todos citam o Serviço Social; 10% oriundos do
Serviço/Academia - 4% não citam o Serviço Social e 6% citam.
Observa-se, o que também foi identificado na análise dos
trabalhos publicados nos Anais do CBAS/ENPESS, que a maioria dos artigos
analisados é de autores vinculados à Academia. Dado relevante, visto que produções
advindas da Academia, certamente fruto de estudos e pesquisas, são
fundamentais para o enriquecimento científico de docentes, alunos e
profissionais que atuam diariamente junto à população. Seus autores encontram-se em espaços
privilegiados de produção de conhecimento – principalmente no que se refere à
universidade pública –, quando os autores podem contribuir para resgatar a
unidade teoria-prática e problematizar caminhos para atuação profissional, na
direção do projeto profissional. Mas, considerando a totalidade de artigos
oriundos da Academia, observa-se também que a maioria dos autores não realiza
mediações com a profissão.
O número reduzido de artigos de
autores vinculados aos serviços pode significar ou que poucos assistentes
sociais estão produzindo ou que não estão conseguindo aprovação nas revistas
para a publicação de seus artigos, o que não foi possível e seria difícil
identificar. Mas o que se observou é que os assistentes sociais que estão
trabalhando diretamente com os trabalhadores/usuários priorizam temas gerais –
idoso, adolescente, questões de gênero, raça, etnia, por exemplo - e não estão
abordando questões relevantes e desafiadoras presentes no cotidiano da prática,
o que, também, se expressa na reduzida presença entre os artigos de relatos/democratização
de experiências profissionais, analisadas tendo em vista apreender e
democratizar seus limites, possibilidades, consequências.
Quanto à titulação dos autores:
Revista Em Pauta: 5% têm graduação, 2% especialização, 36% mestrado,
46% doutorado e 11% pós-doutorado; Revista Serviço Social e Sociedade:
2% têm graduação, 1% especialização, 24% mestrado e 72% doutorado; Revista
Temporalis: 4% têm graduação; 1% especialização, 46% mestrado, 49% doutorado. A
maioria dos autores tem doutorado/pós-doutorado e está vinculada à Academia,
espaço privilegiado de
produção de conhecimento, dispondo de condições mais favoráveis para o
desvendamento do complexo cotidiano institucional/profissional. Assim, é de
onde a categoria pode esperar uma produção de um conhecimento qualificada tendo
em vista o enfrentamento dos desafios colocados aos assistentes sociais pelo
projeto/cotidiano profissional.
É
diante disso que torna-se necessário abordar com mais profundidade os artigos que
fazem alguma mediação com o Serviço Social. Para Vasconcelos (2014), mediação explicita é aquele artigo que em algum
momento faz menção à profissão e/ou aos profissionais e mediação implícita é aquela que o autor não
menciona o Serviço Social/ projeto profissional, mas na análise dos temas
evidencia-se uma articulação com a profissão. Em todas as 3 revistas, em meio a
uma maioria que não cita a profissão, é favorável que todos os artigos que
fazem alguma mediação com o Serviço Social o fazem de forma explícita. Este dado revela uma realidade
diferente da observada na análise dos trabalhos publicados nos Anais do CBAS/ENPESS,
onde a maioria realiza mediações de forma implícita.
Como consta do Eixo de Análise, os artigos
em que os autores além de mencionarem o Serviço Social e/ou projeto de
profissional, anunciam a relevância da temática/produção para a profissão, mas
sem que deixem claro o teor dessa relevância, são caracterizados como relação abstrata. Os artigos em que os autores realizam
mediações com o Serviço Social e/ou projeto profissional, revelando, de forma
coerente e articulada, o porquê da importância do tema para a profissão e/ou o
porquê da importância dos assistentes sociais acessarem/disscutirem tais
conhecimentos, informações, instrumentos, são caracterizados como relação substantiva. No caso de mediações com o
projeto profissional, de forma coerente e articulada, ficam explicitados
finalidades e/ou princípios do projeto.
Na Revista Em Pauta, dos 20% de
artigos que citam o Serviço Social, 9% são caracterizados como relação
substantiva e 11% abstrata. Na Revista Serviço Social e Sociedade, dos 47%
que citam o Serviço Social, 43% fazem uma relação substantiva e 4%
realizam uma relação abstrata. Na revista Temporalis, dos 61% que citam o Serviço
Social, 48% fazem relação substantiva e13% abstrata. Ou seja, à maioria de
artigos que não cita o Serviço Social, podemos agregar, ainda, os artigos que
estabelecem uma relação abstrata com a profissão, na medida em que não
possibilitam mediações claras com o Serviço Social mesmo quando se referem a
ela.
Quanto à relação dos artigos com o projeto ético-político
da profissão, conideando a totalidade dos artigos: Revista Em Pauta, 80% não
citam o Serviço Social; 10% não citam o projeto; 2% realizam mediações
implícitas com o projeto (comungam com a direção social do projeto) e 8%
fazem mediações explícitas, ou seja, abordam o projeto profissional no
contexto da temática desenvolvida; Revista Serviço Social e Sociedade, 53% não se
referem à profissão; 8% não citam o projeto ético-político, 9% realizam
mediações implícitas e 30% mediações explícitas. Revista Temporalis,
39% não citam o Serviço Social, 5% não citam o projeto, 15% fazem mediações
implícitas e 42% realizam mediações explícitas. Se considerarmos que
grande parte dos artigos que não cita o Serviço Social ou o projeto
ético-político da profissão contém indicadores que os coloca na sua direção
social, como pode ser observado, e que são poucos os artigos que não fazem
referência ao projeto, podemos afirmar, ainda que sem uma análise profunda
dessa referência, que a maioria da produção das revistas científicas da área está
em consonância com uma direção social que favorece a luta dos trabalhadores por
emancipação humana. No mais, é a Revista Temporalis que se destaca com uma
expressiva produção na direção do projeto profissional. Ressaltamos,
porém, que uma coisa é uma defesa abstrata do projeto – nomeando-se princípios
de forma fragmentada e/ou simplesmente anunciando ter o projeto como referência
– e outra é uma escolha consciente do mesmo, tendo em vista práticas mediadas
por ele, ao se enfrentar suas exigências com relação à segurança dos princípios
ético-políticos e das referências teórico-metodológicas necessárias à sua
transformação em realidade.
Com relação às mediações substantivas/abstratas
dos artigos com o projeto ético-político do Serviço Social: na Revista Em Pauta, do total de 20% de artigos que citam o Serviço
Social, 10% não citam o projeto, 1% faz referência a ele de forma abstrata e
9% de forma substantiva. Na Revista Serviço Social e Sociedade, dos 39%
que fazem referência ao projeto, 6% fazem de forma abstrata e 33% de forma
substantiva. Na Revista Temporalis, do total de 57% que fazem referência ao
projeto, 25% o fazem de forma abstrata e 31% de forma substantiva. Para além
dos autores que não fazem referência ao Serviço Social e ao projeto
profissional, o que se destaca é que quase metade dos autores que se referem ao
projeto o fazem de forma abstrata, ou seja, uma referência proforma. É assim
que observamos, em artigos que citam o Serviço Social e o projeto de forma
abstrata, na introdução ou na conclusão, por exemplo, o autor dizer: “esse tema
é importante para o Serviço Social”; parto do projeto do Serviço Social”. Ou seja, a referência, principalmente ao
projeto, é quase uma obrigação, mas não uma escolha consciente, na medida em
que nada no desenvolvimento do texto justifica aquela referência .
Como
consta do Eixo de Análise, consideramos como eclético o artigo em que o autor
reproduz referências teórico-metodológicas e ético-políticas que apresentam
contradições indissolúveis, sem considerar as contradições entre elas. Como pluralista, consideramos o artigo em
que o autor se apropria conscientemente e sem contradições profundas de
referencial teórico-metodológico e ético-político, a partir da compreensão de
que qualquer estudo que aborde a realidade social pode contribuir para a
apreensão do movimento do real, tendo respeitada a direção social escolhida; o
que significa que o autor, ao citar autores que no limite se confrontam com sua
direção social, deixa clara a sua posição frente ao autor citado.
Na Revista Em Pauta, observamos que
80% dos artigos não faz mediação com o Serviço Social, 10% não citam o projeto,
9% são pluralistas e 1% é eclético. Na Revista Serviço Social e Sociedade, 53%
não fazem relação com o Serviço Social, 8% não citam o projeto, 35% são
pluralistas e 4% são ecléticos. Na Revista Temporalis, 39% não citam o Serviço
Social, 5% não citam o projeto, 45% são pluralistas e 11% são ecléticos. O
que podemos observar é que os autores que fazem referência ao Serviço Social e
ao projeto profissional, em sua maioria, estabelecem uma relação substantiva
tanto com o Serviço Social como com o projeto, assim como, em sua maioria, tendem
a ser pluralistas, ou seja, se
apropriam conscientemente e sem contradições profundas do referencial teórico
metodológico e ético político expresso no projeto ético-político. Lembramos que
a maioria dos autores está vinculada à Academia (doutores, pós-doutores,
mestres etc.) e, certamente, realizando estudos e pesquisas, em processo de formação
permanente. Observa-se que a revista que apresenta um percentual maior de
artigos ecléticos é justamente a revista editada pela ABEPSS. Por fim,
abordamos as características dos artigos com relação ao conteúdo.
Tabela 1 – Artigos das
Revistas científicas da área de Serviço Social - Em Pauta, Serviço Social&
Sociedade, Temporális-: características com relação ao conteúdo
Características
do artigo
|
EM PAUTA
|
Serviço Social & Sociedade
|
Temporalis
|
Analítico
|
5%
|
17%
|
22%
|
Analítico/propositivo
|
5%
|
15%
|
9%
|
Relato
histórico/analítico/propositivo
|
4%
|
1%
|
2%
|
Relato
histórico
|
2%
|
-
|
-
|
Relato
de experiência/analítico
|
-
|
-
|
5%
|
Relato
de experiência/analítico/propositivo
|
1%
|
1%
|
6%
|
1%
|
-
|
-
|
|
Resultado
de pesquisa/analítico
|
-
|
5%
|
7%
|
Resultado
de pesquisa/analítico/propositivo
|
2%
|
8%
|
5%
|
Projeto
de pesquisa/analítico
|
-
|
-
|
6%
|
Projeto
de atuação resultados/analítico
|
-
|
-
|
1%
|
Não
cita o Serviço Social
|
80%
|
53%
|
39%
|
Total
|
100%
|
100%
|
100%
|
Fonte. Vasconcelos, A.M. NEEPSS/FSS/UERJ,
2016.
Esta
tabela revela, dentre muitas coisas, mas antes de tudo, que em três das mais
importantes revistas cientificas da área o Serviço Social não está presente
como objeto de atenção e que os artigos em que Serviço Social é objeto de
atenção são, na sua maioria, analíticos,
ou seja, são artigos que realizam somente a análise do tema escolhido, podendo
ser um estudo/revisão bibliográfica ou a discussão teórica de um tema. A
revista Serviço Social&Sociedade se destaca com 15% de artigos analítico/ propositivos,
ou seja, artigos que além de abordagem teórica, o autor ressalta a relevância
da produção para a área de Serviço Social, com apresentação de proposições
frente ao que foi realizado pelo assistente social, seja de forma a democratizar
experiências exitosas/contraditórias, seja para sugerir caminhos/alternativas e
indicar possibilidades para a atuação profissional.
Observa-se
que quando o comitê editorial da revista insere o Serviço Social como temática
da edição, é maior a presença de artigos que realizam mediações com a
profissão.
Considerações
Finais
Este trabalho sintetiza estudos do NEEPSS sobre
a produção de conhecimento da área. Ao analisarmos revistas científicas importantes
para o Serviço Social, podemos
observar que a produção de conhecimento que referencia a formação e a prática
dos profissionais, apesar de sintonizada com a direção social do projeto
profissional, vem revelando uma insuficiente abordagem da profissão e quando
ela acontece é uma abordagem analítica em detrimento de uma abordagem também
propositiva. Assim, reafirmamos o que vem sendo apreendido nas
investigações: a produção de
conhecimento da área de Serviço Social, em sua maioria, não aborda a profissão,
o projeto e nem o cotidiano profissional e quando o faz, não prioriza
abordagens que favoreçam a estruturação de práticas mediadas pelo projeto
profissional – ou seja, práticas que favoreçam a luta dos trabalhadores e
trabalhadoras por emancipação humana. A questão não é reivindicar que toda
produção faça mediações com o Serviço Social, mas ressaltar a preocupação que
surge quando a produção já analisada revela uma escassa e débil presença de
trabalhos que referencie os assistentes sociais tendo em vista consolidar ações
mediadas pelo projeto profissional.
Bibliografia
ALBUQUERQUE, Tamires
da Silva. Serviço Social e Produção de
Conhecimento na Revista Serviço Social e Sociedade. Trabalho de Conclusão de
Curso. NEEPSS/Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, 2015.
BALTAR,
Juliana Ferreira. Serviço Social, Projeto Ético Político e Produção de
Conhecimento: o 13º CBAS (Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais): uma
análise comparativa entre os dois últimos CBAS. Trabalho de Conclusão
de Curso. NEEPSS/Faculdade de Serviço Social da universidade do estado do rio
de janeiro, 2012.
_______.
Serviço Social, projeto ético político e
produção de conhecimento. as teses de serviço social socializadas no banco de
dados da capes. Dissertação. PPGSS/FSS/UERJ, 2015.
chaui, marilena. a
universidade pública sob nova perspectiva. revista Brasileira de Educação.
São Paulo, 2003.
EAGLETON, Terry. Marx e a liberdade. São Paulo: UNESP,
1999.
IAMAMOTO,
M.V. Serviço Social em tempos de capital
fetiche: capital financeiro e questão social. São Paulo: Cortez, 2007.
LUKÁCS, György.
Para
uma ontologia do ser social 1. São Paulo: Boitempo, 2012.
______. Para
uma ontologia do ser social 2. São Paulo: Boitempo, 2013.
MARX
& ENGELS, A ideologia alemã [I
— Feuerbach]. São Paulo:
Grijalbo, 1977.
NERI,
Vitória Monteiro. A produção de Conhecimento
como parte constitutiva do Projeto Ético-Político do Serviço Social brasileiro.
Análise dos artigos publicados na revista de Serviço Social: Em Pauta, entre os
anos 2007-2014. Trabalho de Conclusão de Curso. NEEPSS/Faculdade de Serviço
Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015.
NETTO,
José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no
Brasil pós-64. – 16º ed. – São Paulo: Cortez, 2011.
______. Pequena história da ditadura brasileira (1964-1985). São
Paulo: Cortez, 2014.
RODRIGUES,
Natália Cristiane Faro. Produção de
Conhecimento, Projeto ético-político e contribuições para a prática no Serviço
Social. Artigos publicados na Revista Temporalis/ABEPSS (2010 – 2015).
Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Serviço Social da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, 2015.
VASCONCELOS,
A.M. A/O assistente social na luta de
classes. Projeto profissional e Mediações teórico-práticas. São Paulo:
Cortez, 2015.
_____________. Eixo de Análise: Produção de Conhecimento na área de Serviço
Social. Mimeo.
NEEPSS/FSS/UERJ. Versão 2015.
_____________
e outros. Produção de Conhecimento na Área de Serviço Social e Projeto
Ético Político. Anais do ENPESS (2008-2010) e CBAS (2007-2010)”. In:
Congresso Brasileiro De Assistentes Sociais, 2013.
[1] Como mostram Netto e Braz (2006, p. 41) o ser social
se particulariza porque é capaz de: ”realizar atividades teleologicamente orientadas; objetivar-se material e
idealmente; comunicar-se e expressar-se pela linguagem articulada; tratar suas
atividades e a si mesmo de modo reflexivo, consciente e autoconsciente; escolher
entre alternativas concretas; universalizar-se e socializar-se”.
[2] Como muitas das
questões colocadas aqui, para referenciar a leitura dos dados empíricos, não
temos condições de aprofundar a convivência conflituosa entre as Diretrizes
Curriculares da ABEPSS e as Diretrizes Curriculares do MEC que, esvaziadas de
conteúdos e de direção social, veem favorecendo a mercantilização e
massificação da formação dos assistentes sociais brasileiros através da
inciativa privada – seja presencial, seja à distância.
[3] Utilizamos, na
identificação do percentual, o software Microsoft Office Excel 2010, com
fórmula matemática específica como base estatística para os artigos, desta
forma, trabalhamos dentro da margem de erro de 3% a 5%, com os números
inteiros.